sábado, 13 de fevereiro de 2016

Sonhos que se vão - Com Arão Alves


Música linda, adoro cantá-la. Vídeo gravado em apresentação de Cantata natalina na Igreja missionária evangélica Maranata.


sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O Pentecostalismo


Por: Arão Alves, mestre em Historia social
A palavra pentecostal origina-se de pentecostes, uma festa judaica que ocorria cinquenta dias após a páscoa. Essa festa comemorava a entrega das tábuas da lei à Moisés, fato marcante por representar o ato fundador do que seria a Tora, principal fundamento do judaísmo. Para o cristianismo seu significado é outro, pois segundo o texto bíblico contido no livro de Atos, capítulo 2, foi durante o período dessa festa que 120 cristãos reunidos em um cenáculo, na cidade de Jerusalém, teriam recebido a visita do Espírito Santo, dando início a prática da glossolalia, onde o fiel fala diversas línguas  de forma sobrenatural.
Na busca pela compreensão das origens do pentecostalismo diversas linhas explicativas tem sido apontadas como possibilidaddes de entender as matizes do movimento. As características históricas norte-americana, bem como a realidade religiosa dos Estados Unidos durante o século XIX. O século XIX foi um século de grandes transformações para o mundo e para os Estados Unidos,  e segundo Leonildo Silveira Campos é essa abordagem sociológica que contribuiria para compreender para o surgimento do fenômeno pentecostal.    Das diversas linhas explicativas que procuram entender o fenômeno pentecostal destaca-se a que considera o metodismo inglês de John Wesley como base para o advento do pentecostalismo.
O fundador do metodismo acreditava que o homem, após sua conversão, deveria dedicar-se de forma intensiva a santificação, que consistia numa busca constante de aproximação e identificação com  Deus. Essa “perfeição cristã” ou também conhecido como “a mente de cristo” era um estado que o cristão deveria perseguir ao longo de toda a sua vida. Nas primeiras décadas do século XIX, os batistas e metodistas passaram por grande crescimento, entretanto o elemento quantitativo não foi o único fator importante no crescimento metodista, mas a disseminação das práticas e linhas teológicas entre os demais seguimentos protestantes. Entre essas práticas e teorias podemos destacar as idéias arminianas que se contrapunham, em alguns aspectos, em relação ao calvinismo, contraposição esta  que discutirei posteriormente. As pregações com grande carga emocional e a participação de mulheres em reuniões onde exerciam um papel tradicionalmente masculino, que era o de orar em reuniões freqüentadas por fieis de ambos os sexos, se constituía em novas práticas litúrgicas e comportamento diferenciado na relação com as práticas ritualísticas. A partir da quarta década do século XIX, baseado nas idéias wesleyanas de santidade, surge  grande clamor por um avivamento que possibilitasse despertar os norte americanos para a importância do processo de santificação, e a partir desse clamor aconteceu uma grande cruzada que utilizou  periódicos e literaturas para divulgarem  as idéias defendidas pelo movimento. O auge do movimento ocorreu entre 1857 e 1858 e foi responsável pela divulgação das novas práticas e por uma  profunda transformação no pensamento metodista.   Foi desse movimento, segundo Campos Jr, que surgiria nos EUA durante o século XIX o movimento conhecido como holiness que promoveria a separação desse grupo em relação aos metodistas. Esse grupo passou a associar o processo de santificação ao batismo do Espírito Santo, que se caracterizava como uma confirmação desse processo. 
Em outubro de 1900, Charles Parham inaugurou uma escola bíblica em Topeka, Kansas. Parham era simpatizante do movimento holiness e desenvolvia estudos teológicos que discutiam acerca do que chamavam de derramamento do Espírito que todos os cristãos, que haviam obtido uma santificação eficaz, deveriam experimentar. No ano de 1901 Agnez Ozman, uma das alunas de Parham, se tornou a primeira desse grupo a praticar a glosalalia. Era o inicio do pentecostalismo nos EUA.
Em 1905, Parham fundou a Escola bíblica de Houston, no estado do Texas. Ele era um pregador extremamente influenciado pelo movimento holiness e defendia que a glossolalia deveria acompanhar o batismo com o Espírito Santo. O batismo com o Espírito Santo já era pregado pelos holiness, mas era apresentado como uma terceira experiência desvinculada da conversão e da Santificação, entretanto, mesmo utilizando a simbologia pentecostal, a glossolalia não fazia parte dessa doutrina.  Um dos  alunos de Parham, o pregador negro W. J. Seymour, adepto da seita holiness  convenceu-se da importância da glossolalia como sinal do batismo com o espírito santo. Quando viajou para Los Angeles, Seymour pregava insistentemente destacando sempre as suas experiências, fato que suscitou resistência entre os protestantes mais conservadores, entretanto Seymour instalou-se em um templo metodista na rua  Azuza, onde as reuniões pentecostais eram diárias e essa experiência se espalhou pelos EUA, sendo encarada pela imprensa norte-americana como um nocivo processo de africanização da cultura americana.
O movimento pentecostal  norte-americano, através de missionários, expandiu-se pelo mundo chegando ao Brasil através de dois suecos convertidos ao pentecostalismo nos Estados Unidos, que chegaram ao país em 1910. Os dois missionários, Daniel Berg e Gunnar Vingren, haviam pertencido a Igreja Batista e, ao chegarem  à cidade de Belém foram calorosamente acolhidos pela igreja Batista local. As novas experiências pentecostais perceptíveis na oração pentecostal, mais vibrante e menos formal,  impressionaram vários dos batistas locais que passaram a buscar a manifestação defendida pelos missionários suecos.  Foi numa dessas experiências de oração que um fiel batista começou a falar em línguas desconhecidas, principal sinal do que os pentecostais chamam de batismo no Espírito Santo. A experiência compartilhada trouxe legitimidade às pregações de Berg e Vingren, criando uma cisão na unidade da igreja batista em Belém, pois a simpatia inicial transformara-se em cumplicidade com a nova doutrina. Desse grupo dissidente surgiria a primeira igreja da Assembléia de Deus  no Brasil: a igreja de Belém, conhecida até hoje como a Igreja mãe. Esse movimento não chegou ao Brasil de forma isolada, pois no Sul do Brasil surgiu outro movimento pentecostal que daria origem a Congregação Cristã do Brasil, entretanto o movimento no Sul nasce, não apenas em ambiente cultural especifico e diverso em relação ao pentecostalismo do Norte, mas marcado também pelas origens distintas dos missionários fundadores.
O chamado pentecostalismo clássico surgiu no Brasil no inicio do século XX através de missionários estrangeiros que chegaram ao país e deram inicio a divulgação da nova doutrina pentecostal. No estudo das origens do protestantismo no Brasil o advento do pentecostalismo  estaria inserido no que  Antonio Gouvêa denomina como protestantismo missionário.
Dois movimentos pentecostais deram origem a duas igrejas que seriam as bases para a expansão do pentecostalismo no território brasileiro. Os dois movimentos fundadores, embora aparentemente articulados, possuíam características específicas que marcaram sensivelmente suas formas de organização e consequentemente o tipo de organização que surgiu desses movimentos fundadores.
Distante dos grandes centros urbanos e do eixo político central, os dois movimentos pentecostais em dois extremos opostos do território brasileiro, um na região norte e o outro nas regiões sul e sudeste, fato que provavelmente deixou marcas em suas específicas constituições iniciais.
No norte do Brasil, mas precisamente na cidade paraense de Belém, surgiu a Assembléia de Deus, que a partir dessa região expandiu-se por todo o território brasileiro, embora apresentando um crescimento inferior ao crescimento da Congregação Cristã do Brasil. Apesar de sua primeira Igreja ter sido fundada na cidade de São Paulo, a Congregação cristã do Brasil iniciou seu movimento de expansão a partir do sul, principalmente a partir de colônias italianas e empreendeu um vigoroso crescimento. Além das questões geográficas outros elementos se apresentam como elementos de diferenciação entre a os dois pioneiros movimentos pentecostais no Brasil.
 A Assembleia de Deus  diferia-se da congregação cristã do Brasil em alguns aspectos que se constituem em importantes marcas nas específicas configurações do domínio do sagrado vivenciados pelo segmento assembleiano ao longo de sua história.
O calvinismo arminiano exerceu forte influencia na teogonia do sagrado assembleiano que, no Brasil, nasce  no seio de uma comunidade protestante tradicional: a Igreja Batista. Seus Fundadores, no Brasil, os missionários suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren, eram oriundos da Igreja Batista em seu país de origem, diferindo da formação valdense e presbiterianista de Luiz Grancescon, o fundador da Congregação Cristão do Brasil.  Luiz de Castro Campos Jr., em se livro Pentecostalismo, discute de forma sintética as principais características dos valdense, fato que possibilita a compreensão da influencia valdense na constituição de um pentecostalismo mais simples, sem a necessidade de uma construção teórica densa e complexa.

...O fundador da congregação Cristã do Brasil recebeu influencia dos valdenses e sobre esse aspecto tornam-se importantes alguns comentários. Os antigos valdenses tinham um conceito fundamental: a Bíblia, em especial o novo testamento, se constituía na única regra de fé e vida, e as interpretações eram realizadas de forma literal. Dentre os preceitos básicos estavam: o uso apenas da oração dominical, ações de graça antes das refeições, a prática de confissões e a de celebrar em conjunto a ceia do Senhor.


O segmento assembléiano, com suas especificidades e realidades próprias, parecia não ter  conseguido desvencilhar-se totalmente de suas raízes históricas, pois o calvinismo arminiano deixou marcas que possibilitaram, através de um imenso gradiente de micro relações compor possibilidades próprias de  sobrevivência. Quando insisto em destacar a importância desse elemento na construção histórica da Assembéia de Deus, isso se dá pela própria característica histórica do movimento arminiano, cujas origens diferem do movimento valdense e de tudo quanto ele representou.
O arminianismo teve suas origens no século XVI e seu nome refere-se ao pastor e professor holandês Jacob Armínio, um eminente calvinista , que passou boa parte de sua formação intelectual e Genebra. A influencia calvinista estava presente em toda holanda e Armínio estudou durante muito tempo sob a orientação do sucessor de Calvino em Genebra: Teodoro de Besa. Em Amsterdã, após ter assumido um importante igreja na cidade, Armínio ganhou projeção  e passou a ser considerado um dos maiores estudiosos e especialista em Teologia. Nesse período um importante teólogo chamado Dirck Koornhet questionava algumas teses calvinistas gerando grande desconforto emtre os calvinistas holandeses., devido a fundamentação teórica apresentada por ele em sua argumentação. Armínio foi escolhido para derrubar a tese apresentada por Koornhet. Após aceitar a empreitada Armínio dedicou-s a uma análise dos escritos de Koornhet contrapondo-os com diversos teólogos protestantes. A conclusão de seus estudos só seria apresentada publicamente após tornar-se professor de Teologia na Universidade de Leyden. Armínio após longo período de estudos chegara a conclusão de que as críticas feitas por Koornhet, à algumas doutrinas calvinistas, eram legítimas e suas teses representavam um avanço no conhecimento teológico. A universidade de Leyden  vivia agora  um momento importante onde Armínio defendia a nova doutrina, que passou a ser conhecida como arminianismo, entretanto outro importante professor da Universidade, seguidor do calvinismo se apresentou como opositor as teorias arminianas.
Calorosos debates acadêmicos ocorreram entre Armínio e seu colega Francisco Gomaro e tais debates não se extinguiram, nem mesmo, após sua morte, em 1609, pois seu sucessor de cátedra deu continuidade aos debates com Gomaro.
Ao apresentar esse breve histórico da origem do arminianismo, não me preocupei em apresentar as questões teóricas de sua desavença com o calvinismo, que girava em torno da predestinação e suas bases, pois eram as bases e não a predestinação em si que gerava as discussões. Minha preocupação era demonstrar que a questão teórica era o elemento que legitimava a doutrina e sua construção se dava através das discussões no meio acadêmico. Após essa certificação fica evidente a diferença entre o arminianismo e os valdenses quanto ao elemento legitimador, onde a erudição dos arminianos  se contrapõe a simplicidade dos valdenses.  O calvinismo e o arminianismo se caracterizavam como doutrinas construídas teoricamente e suas características evocavam uma valorização do conhecimento formal representados concretamente na fundação de institutos e universidades Frederick Eby destaca a importância da academia criada por Calvino em 1559, como modelo para outras universidades entre as quais cita as de Leyden na Holanda, Edimburgo na Escócia, Emmanuel College da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, que segundo Eby teria influenciado a fundação de Harvard, na América do Norte.
As experiências vivenciadas pelos missionários fundadores, bem como suas formações distintas, contribuiriam, não de forma absoluta ou puramente determinista, mas na soma com diversos outros elementos que marcariam os específicos domínios do sagrado enquanto ser atribuído a partir de percepções marcadamente distintas. Dos dois movimentos pentecostais descritos acima a Assembléia de Deus conheceu um processo expancionista bem mais vigoroso que o vivenciado pela Congregação Cristã do Brasil, embora nos primeiros anos essa diferença não fosse tão visível. O modelo proselitista praticado pela Congregação Cristã do Brasil difere quanto as estratégias utilizadas, não utilizando recursos como jornais, rádio ou mais recentemente, como foi o caso da Assembléia de Deus, a televisão. Essa estratégia diferenciada, pode ser apontada como um dos elementos explicativo para o crescimento superior da Assembléia de Deus no Brasil se comparada a Congregação Cristã do Brasil.
Apresentado de forma preliminar os dois movimentos fundadores do pentecostalismo no Brasil, pretendo concentrar-me na Assembléia de Deus, pois acredito que sua representatividade dentro do pentecostalismo clássico possibilita uma abordagem que possa esclarer, sem esgotar, parte da história desse movimento no Brasil, bem como a construção do sagrado percebido pelo seguimento.
A nova igreja recebeu o nome de Missão da fé apostólica, em alusão ao famoso periódico quinzenal Apostolic Faith dirigido por Charles Parhan, permanecendo com esse nome até 1918, quando finalmente foi denominada Assembléia de Deus. Em seu inicio, sob a orientação dos missionários suecos, o pentecostalismo nacional estava fortemente influenciado pelo pentecostalismo norte-americano, e construiu seu credo  a partir dessa orientação teológica, embora a teologia, enquanto conhecimento formal, não fizesse parte do ethos assembleiano. Dayton, ao estudar as raízes do pensamento pentecostal norte-americano, aponta quatro pilares que teriam servido de base para a construção do movimento pentecostal. Para Dayton a crença em um Cristo que possui quatro atributos que o caracterizam como agente de ação. O primeiro atributo estaria ligado ao seu poder salvador, pilar presente também em outros seguimentos protestantes. O segundo pilar apontado por Dayton, o cristo batizador com o espírito santo, serve como sinal específico da identidade pentecostal, marcando sensivelmente o terceiro pilar, que, segundo Dayton residia na crença em um Cristo que cura enfermidades. O quarto pilar, de cunho escatológico, baseava-se na realeza de Cristo e em sua volta como rei  dos reis.


Arão Inocencio Alves de Araujo
Mestre em história Social












BURGUESS, S. M; VAN DER MASS, E.M (Ed). The new international dictionary of Pentecostal and charismatic movements. Grand Rapid, Michigan: Zondervan, 2002.
CAMPOS JR. Luis de Castro. Pentecostalismo. São Paulo: Àtica, 1995.
CAMPOS, Leonildo Silveira. As origens norte-americanas do pentecostalismo brasileiro: observações sobre uma relação ainda pouco avaliada. Revista USP, nº 67 ( set- novembro, 2005), p. 100-115.
DAYTON, D. Raices teológicas  del pentecostalismo. Buenos Aires: Nueva Creación,  1991.
MATOS, Alderi Souza de. O movimento pentecostal: Reflexõesa propósito do seu primeiro centenário.
MONROE, Paul. História da Educação. São Paulo: Cia Editora nacional, 1974
ROLIM, Francisco Cartaxo. Religião e classes populares. Rio de Janeiro: Vozes, 1980 pp.142-143                     

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Há anos um cantor não me encantava tanto!!!


Quem é músico possui um saudável defeito: não sabe apreciar uma boa música sem encontrar um ponto que mereça críticas. Confesso que, por muito procurar, encontrei defeitos nessa apresentação e esses estão relacionados aos efeitos que os técnicos de áudio acrescentaram a voz. Entretanto os pontos positivos são tão marcantes que minha "grande" crítica desaparece diante das virtudes desse cantor precose. É verdade que nunca apreciei "Agnus Day" nem mesmo o estilo do gospel tradicional, mas esse menino tem o poder de um Midas, um talento de interpretação e emoção que me lembra a Elis cantando fascinação, e assim como a pimentinha me fascinava essa apresentação reascendeu minha fascinação pela arte da interpretação.
Boa audição e não deixem de comentar.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Uma História do Pentecostalismo Clássico




Arão I. Alves de Araujo*


O movimento pentecostal norte-americano, através de missionários, expandiu-se pelo mundo chegando ao Brasil através de dois missionários suecos, convertidos ao pentecostalismo nos Estados Unidos, que chegaram ao país em 1910. Os dois missionários, Daniel Berg e Gunnar Vingren, haviam pertencido a Igreja Batista e, ao chegarem à cidade de Belém foram calorosamente acolhidos pela igreja Batista local. As novas experiências pentecostais perceptíveis na oração pentecostal, mais vibrante e menos formal, impressionaram vários dos batistas locais que passaram a buscar a manifestação defendida pelos missionários suecos. Foi numa dessas experiências de oração que um fiel batista começou a falar em línguas desconhecidas, principal sinal do que os pentecostais chamam de batismo no Espírito Santo. A experiência compartilhada trouxe legitimidade às pregações de Berg e Vingren, criando uma cisão na unidade da igreja batista em Belém, pois a simpatia inicial transformara-se em cumplicidade com a nova doutrina. Desse grupo dissidente surgiria a primeira igreja da Assembléia de Deus no Brasil: a igreja de Belém, conhecida até hoje como a Igreja mãe.[1] Esse movimento não chegou ao Brasil de forma isolada, pois no Sul do Brasil surgiu outro movimento pentecostal que daria origem a Congregação Cristã do Brasil, entretanto o movimento no Sul nasce, não apenas em ambiente cultural especifico e diverso em relação ao pentecostalismo do Norte, mas marcado também pelas origens distintas dos missionários fundadores.
O chamado pentecostalismo clássico surgiu no Brasil no inicio do século XX através de missionários estrangeiros que chegaram ao país e deram inicio a divulgação da nova doutrina pentecostal. No estudo das origens do protestantismo no Brasil o advento do pentecostalismo estaria inserido no que Antonio Gouvêa denomina como protestantismo missionário[2].
Dois movimentos pentecostais deram origem a duas igrejas que seriam as bases para a expansão do pentecostalismo no território brasileiro. Os dois movimentos fundadores, embora aparentemente articulados, possuíam características específicas que marcaram sensivelmente suas formas de organização e consequentemente o tipo de organização que surgiu desses movimentos fundadores.
Distante dos grandes centros urbanos e do eixo político central, os dois movimentos pentecostais em dois extremos opostos do território brasileiro, um na região norte e o outro nas regiões sul e sudeste, fato que provavelmente deixou marcas em suas específicas constituições iniciais.
No norte do Brasil, mas precisamente na cidade paraense de Belém, surgiu a Assembléia de Deus, que a partir dessa região expandiu-se por todo o território brasileiro, embora apresentando um crescimento inferior ao crescimento da Congregação Cristã do Brasil. Apesar de sua primeira Igreja ter sido fundada na cidade de São Paulo, a Congregação cristã do Brasil iniciou seu movimento de expansão a partir do sul, principalmente a partir de[3] colônias italianas e empreendeu um vigoroso crescimento. Além das questões geográficas outros elementos se apresentam como elementos de diferenciação entre a os dois pioneiros movimentos pentecostais no Brasil.
A Assembleia de Deus se difere da congregação cristã do Brasil em alguns aspectos que se constituem em importantes marcas nas específicas configurações do domínio do sagrado vivenciados ao longo da história do segmento assembleiano.
O calvinismo arminiano exerceu forte influencia na teogonia do sagrado assembleiano que, no Brasil, nasce no seio de uma comunidade protestante tradicional: a Igreja Batista. Seus Fundadores, no Brasil, os missionários suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren, eram oriundos da Igreja Batista em seu país de origem, diferindo da formação valdense[4] e presbiterianista de Luiz Grancescon, o fundador da Congregação Cristão do Brasil. Luiz de Castro Campos Jr., em se livro Pentecostalismo, discute de forma sintética as principais características dos valdense, fato que possibilita compreender-mos importância da influencia valdense na constituição de um pentecostalismo mais simples, sem a necessidade de uma construção teórica densa e complexa.

...O fundador da congregação Cristã do Brasil recebeu influencia dos valdenses e sobre esse aspecto tornam-se importantes alguns comentários. Os antigos valdenses tinham um conceito fundamental: a Bíblia, em especial o novo testamento, se constituía na única regra de fé e vida, e as interpretações eram realizadas de forma literal. Dentre os preceitos básicos estavam: o uso apenas da oração dominical, ações de graça antes das refeições, a prática de confissões e a de celebrar em conjunto a ceia do Senhor.[5]


O segmento assembléiano, com suas especificidades e realidades próprias, parece não ter conseguido desvencilhar-se totalmente de suas raízes históricas, pois o calvinismo arminiano deixou marcas que possibilitaram, através de um imenso gradiente de micro relações compor possibilidades próprias de sobrevivência. Quando insisto em destacar a importância desse elemento na construção histórica da Assembéia de Deus, isso se dá pela própria característica histórica do movimento arminiano, cujas origens diferem do movimento valdense e de tudo quanto ele representou.
O arminianismo teve suas origens no século XVI e seu nome refere-se ao pastor e professor holandês Jacob Armínio, um eminente calvinista , que passou boa parte de sua formação intelectual e Genebra. A influencia calvinista estava presente em toda holanda e Armínio estudou durante muito tempo sob a orientação do sucessor de Calvino em Genebra: Teodoro de Besa. Em Amsterdã, após ter assumido um importante igreja na cidade, Armínio ganhou projeção e passou a ser considerado um dos maiores estudiosos e especialista em Teologia. Nesse período um importante teólogo chamado Dirck Koornhet questionava algumas teses calvinistas gerando grande desconforto emtre os calvinistas holandeses., devido a fundamentação teórica apresentada por ele em sua argumentação. Armínio foi escolhido para derrubar a tese apresentada por Koornhet. Após aceitar a empreitada Armínio dedicou-s a uma análise dos escritos de Koornhet contrapondo-os com diversos teólogos protestantes. A conclusão de seus estudos só seria apresentada publicamente após tornar-se professor de Teologia na Universidade de Leyden. Armínio após longo período de estudos chegara a conclusão de que as críticas feitas por Koornhet, à algumas doutrinas calvinistas, eram legítimas e suas teses representavam um avanço no conhecimento teológico. A universidade de Leyden vivia agora um momento importante onde Armínio defendia a nova doutrina, que passou a ser conhecida como arminianismo, entretanto outro importante professor da Universidade, seguidor do calvinismo se apresentou como opositor as teorias arminianas.
Calorosos debates acadêmicos ocorreram entre Armínio e seu colega Francisco Gomaro e tais debates não se extinguiram, nem mesmo, após sua morte, em 1609, pois seu sucessor de cátedra deu continuidade aos debates com Gomaro.
Ao apresentar esse breve histórico da origem do arminianismo, não me preocupei em apresentar as questões teóricas de sua desavença com o calvinismo, que girava em torno da predestinação e suas bases, pois eram as bases e não a predestinação em si que gerava as discussões. Minha preocupação era demonstrar que a questão teórica era o elemento que legitimava a doutrina e sua construção se dava através das discussões no meio acadêmico. Quando digo meio acadêmico, estou me referindo aos centros de produção de conhecimento do século XVII. Após essa certificação fica evidente a diferença entre o arminianismo e os valdenses quanto ao elemento legitimador, onde a erudição dos arminianos se contrapõe a simplicidade dos valdenses. O calvinismo e o arminianismo se caracterizavam como doutrinas construídas teoricamente e suas características evocavam uma valorização do conhecimento formal representados concretamente na fundação de institutos e universidades[6]. Frederick Eby destaca a importância da academia criada por Calvino em 1559, como modelo para outras universidades entre as quais cita as de Leyden na Holanda, Edimburgo na Escócia, Emmanuel College da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, que segundo Eby teria influenciado a fundação de Harvard, na América do Norte.
As experiências vivenciadas pelos missionários fundadores, bem como suas formações distintas, contribuiriam, não de forma absoluta ou puramente determinista, mas na soma com diversos outros elementos que marcariam os específicos domínios do sagrado enquanto ser atribuído a partir de percepções marcadamente distintas. As diferenças podem ser percebidas em vários aspectos como: a valorização da intelectualidade, na organização administrativa adotada pelas duas igrejas e no modelo evangelizador. Tais aspectos fizeram parte dos específicos processos de institucionalização vivenciados pela Assembleia de Deus e pela Congregação Cristã do Brasil. O modelo proselitista praticado pela Congregação Cristã do Brasil difere quanto as estratégias utilizadas em sua estratégia de evangelismo ao longo de sua história, não utilizando para isso recursos como jornais, rádio ou mais recentemente, como foi o caso da Assembléia de Deus, a televisão. Essa estratégia diferenciada, pode ser apontada como um dos elementos explicativo para o crescimento assembleiano ter alcançado, na segunda metade do século XX o título de maior igreja protestante do Brasil.[7]


* Graduado em Sociologia, Graduado em História, Pós-Graduado em História do Brasil e Mestre em História Social.

[1] Rolim, 1980
[2] GOUVÊA, 1990. p.33
[3] CAMPOS JR, 1992. p.29
[4] Considerados pré reformadores, os valdenses tiveram sua origem no século XII na região de Lyon na França
[5] CAMPOS JR. 1992. p.26
[6] MONROE, 1974, p 191.
[7] CAMPOS JR, 1992, pp. 28-29


Arão I. Alves de Araujo